UNDER_SPOTLIGHT: OHXALA

Os novos convidados da nossa rubrica Under_Spotlight são o duo português OHXALA, um projeto que está a redefinir a forma como a música eletrónica pode unir culturas, histórias e emoções. Num panorama musical cada vez mais global, OHXALA destaca-se por transcender o simples ato de fazer dançar — eles criam experiências.

UNDER_SPOTLIGHT

12/1/20255 min read

Formado por Maria e Luís, OHXALA constrói pontes sonoras entre a Amazónia, África e Portugal, moldando uma fusão eletrizante que devolve o espírito ritual à pista de dança. O duo posiciona-se na linha da frente do movimento Ethnobeats, celebrando a diversidade cultural através de ritmos tradicionais, paisagens sonoras orgânicas e uma estética profundamente espiritual.

A sua paixão em explorar o mundo levou-os a desenvolver uma impressionante coleção de registos de campo, captando sons autênticos de comunidades e territórios que influenciaram o seu universo musical. Essa mesma curiosidade está fortemente presente no álbum “Gentes da Minha Terra”, uma obra que mergulha nas raízes de Portugal e transporta o ouvinte para os recantos mais genuínos e escondidos do país.

Com uma energia que simboliza vida, diversidade e união, OHXALA convida-nos para uma viagem transformadora, onde a música se torna o fio universal que liga povos, memórias e emoções. E é precisamente por isso que chegam agora ao Under_Spotlight, para partilhar a sua visão, o seu percurso e o poder do seu som com a nossa comunidade.

1. O vosso som é uma verdadeira fusão entre culturas e continentes. Como nasceu o projeto OHXALA e esta vossa visão de unir o mundo através da música?

O projeto Ohxala nasce em Hamburgo, onde, por intermédio de amigos, nos conectámos com a música mais lenta e cheia de influências de diferentes culturas do mundo. Hoje conhecido como Ethnobeat ou Folktronica, na época era ainda um movimento embrionário e multidisciplinar, e envolvia performances, caracterização e a introdução de elementos e instrumentos musicais tradicionais. Ouvimos avidamente esta nova e interessante corrente musical e decidimos criar algumas músicas. E assim nasce o projeto Ohxala.

2. O movimento Ethnobeats tem vindo a ganhar força globalmente. Como sentem que o vosso trabalho se insere e contribui para este movimento?

Sendo um movimento, que nasce de uma ponte cultural entre São Paulo e Berlim, foi para nós fácil ficar rendidos e conseguir absorver a cadência e musicalidade do movimento. Ao mesmo tempo que nós começávamos a criar músicas novas, há também um conjunto de produtores que, através do Soundcloud, comunicavam, comentavam e apoiavam as músicas novas que surgiam quase diariamente e faziam remixes e colaborações. O nosso projeto, a par com outros, foi crescendo e ganhando alguma notoriedade.

3. “Gentes da Minha Terra” é um álbum muito ligado às raízes portuguesas. Como foi o processo de recolha e integração desses sons autênticos?

Gentes da Minha Terra é uma viagem sensorial ao interior de Portugal: um mergulho profundo na alma rural, nas tradições, nos sons e nas paisagens que nos moldam. Nos últimos três anos, canalizamos essa experiência para dentro de casa, iniciando uma recolha extensiva de sons, paisagens sonoras e tradições musicais portuguesas. Gentes da Minha Terra é o culminar desse processo: um espetáculo que cruza o mundo que nos inspirou com o país que nos formou.

4. Que importância têm os registos de campo no vosso processo criativo e o que procuram capturar quando viajam?

As gravações de campo permitem-nos colocar o ouvinte no local. Embora sejam usadas de forma subtil, o “silêncio” de cada sítio é diferente e único. O barulho do vento, uma pessoa que passa ao longe, o aeroporto, um parque na Roménia, os pavões de Mykonos, o deserto, a brisa das montanhas, as vozes e movimentos das pessoas, o mar...

5. Em palco, as vossas atuações são descritas como rituais sonoros. Como definem a vossa relação com o público durante uma performance?

A conexão é o mais importante. Sempre que conseguimos conectar-nos com o público, a experiência é muito mais emocionante e especial. As pessoas querem divertir-se, libertar-se e a nossa missão é sempre conseguir potenciar isso, com coisas novas, ritmos diferentes e muita diversidade cultural.

6. A vossa música tem uma forte componente espiritual e ambiental. Sentem que há também uma mensagem de consciência nas vossas produções?

A música consegue conectar e unir, e é vista como uma linguagem universal. O respeito pelas tradições e o discurso que trabalhamos trazem sempre uma mensagem que consideramos importante.

7. Quais foram as viagens ou culturas que mais vos marcaram artisticamente até hoje?

Temos um encanto romântico com o Brasil: a sonoridade da língua e a musicalidade do povo são verdadeiramente inspiradores. A Turquia, pelas cores, cheiros e diferenças culturais; o Mar Egeu; e África com o seu ritmo e sons da terra.

8. Sendo um duo, como é que equilibram as duas visões criativas no estúdio e no palco?

Tudo começa pela escuta: música do mundo, canais de Youtube, discos, websites e blogs. Dessa eterna procura e após muitas, muitas horas, selecionamos referências e estilos de que gostamos. Começamos por recolher elementos em que ambos concordamos: a mensagem, a melodia, a gravação de campo, novos instrumentos ou sonoridades. Só depois avançamos para a composição, tendo em conta e respeitando o elemento que deu início à música. Em palco, ambos adoramos dançar e divertir-nos, sobretudo numa boa festa.

9. O que podem revelar sobre os projetos futuros de OHXALA — há novas colaborações ou lançamentos a caminho?

Estamos a promover o nosso projeto Gentes da Minha Terra, um espetáculo audiovisual já com algumas apresentações agendadas.
Acabou de sair, pela The Gardens of Babylon, o EP Electric Lake em colaboração com o Anthöny.

Temos um novo EP em finalização que será o release número 100 da nossa label, Ohxala Records.
Temos também um live act que é uma viagem sonora progressiva e energética. Usamos gravações de campo como pano de fundo e manipulamos máquinas e sintetizadores em tempo real, criando uma experiência viva, vibrante e imprevisível. Está prontinho para os clubes e festivais que se avisinham.

10. Para terminar, o que gostariam que o público sentisse ou levasse consigo depois de ouvir ou viver um set de OHXALA?

Boas vibes :)

Para ouvires o trabalho deles, segui o Linktree oficial da OHXALA, onde podes aceder aos seus álbuns, lives, redes sociais e muito mais: Ohxala Linktree

A Undermag agradece profundamente aos OHXALA pela generosidade, pela visão e pela viagem sonora que partilharam connosco. É um privilégio iluminar projetos que unem culturas, pessoas e emoções através da música. Que este seja apenas mais um capítulo de muitos — continuaremos atentos ao vosso caminho e às histórias que ainda têm para contar. Obrigado por estarem connosco no Under_Spotlight.